Por Wau M.Q.
Essa semana tivemos uma entrevista desastrosa do presidente Lula sobre a inflação dos alimentos, na qual ele disse que é preciso educar a população para saber lidar com a alta no preço dos alimentos, sugerindo um boicote dos consumidores aos produtos inflacionados como a solução imediata, tirando a responsabilidade do governo na situação.
A PEC da transição injetou bilhões na economia estimulando o consumo, como despesas fora do teto de gastos, sem que a cadeia produtiva tivesse alicerce para acompanhar a demanda do consumo induzido, isso, levando em conta a elevação dos custos de produção devido a intempéries climáticas e a desvalorização cambial, ou seja, quebra de safra, como no caso do café, e quando há esse desequilíbrio entre oferta e demanda, gera inflação, e um crescimento artificial.
A conta desse crescimento artificial chegou, a galinha voadora está com as asas cansadas e prestes a se estatelar no chão, mas o presidente responsabilizou o comerciante que estaria tirando proveito do "aumento da massa salarial", para subir os preços e lucrar mais, e o Banco Central como segundo vilão, e faz um apelo saudosista dos anos oitenta para que nos transformemos em fiscais de prateleira e paremos de comprar produtos de primeira necessidade, e que troquemos por similares. Acontece que os similares também estão exorbitantes, o molho está ficando mais caro que o peixe.
Mais uma vez, o governo tropeça na comunicação, agora na figura do presidente, que deu brechas para o oportunismo e a manipulação da narrativa da parte da oposição, demonstrando a falta de rumo e de uma comunicação estratégica. A vinda do marqueteiro da campanha para chefiar o ministério das comunicações corre o risco de se tornar uma antecipação do horário de propaganda eleitoral gratuita no meio da gestão, disfarçada de comunicação governamental. O excesso de exposição do presidente, sem uma marca, com um governo à deriva, só mostra que você tem muito o que falar sem quase nada a dizer ou apresentar, e aí abre o campo para tropeços fragorosos das falas.
O governo gasta mais do que arrecada e o consumidor é o culpado? Nós somos os responsáveis pelo fim da carestia dos alimentos, por que não podemos parar de consumir? Os afetados pela disparada nos preços dos alimentos serão os responsáveis em baixá- los? Fomos estimulados a consumir e agora precisamos racionar o nosso consumo para combater a inflação? Vamos cagar dia sim, dia não para economizar água? Um governo que se mostra impotente diante da conjuntura, joga para a população a sustentação da sua política econômica? Entre a fila de ossos e a picanha existem mais coisas do que se pode imaginar em nossa vã demagogia.
Volte amanhã. Procure um similar. Fique atento às promoções. Aproveite os saldões com as filas quilométricas - depois da Black Friday sempre vem o Black Sabbath. Pratique o minimalismo, o desapego, sei lá! Se vire! O Brasil é dos brasileiros, e o brasileiro não desiste nunca! Agora peço licença aos leitores, porque vou ali passar um cafezinho misturado com cevada e milho triturado, e tentar digerir essa retórica.
*Wau Marquez é escritor, jornalista e apresentador do "Hortocast"
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