A superficialidade do conteúdo na internet torna o conhecimento do estudante que a utiliza para estudo raso, pois mesmo sendo textos curtos com objetividade nos temas, não são considerados suficientes para o aluno que busca um amplo domínio sobre um determinado tema, principalmente assuntos mais complexos que exigem um raciocínio.
As palavras “brain rot” cujo termo na Língua Portuguesa pode ser “cérebro podre” ou “podridão cerebral” tratam exatamente essa questão de acesso a conteúdo na internet que, pela falta de mais qualidade, trazem prejuízo na saúde mental e emocional do leitor.
Miriam Porto é mestre em História, pedagoga especializada em Gestão Escolar e Psicologia Educacional, fundadora da OE (Orienta e Educa). Com mais de 30 anos de experiência na área da educação, ela explica sobre a expressão “brain rot” e as consequências na aprendizagem. “Embora nos cause surpresa, o termo "cérebro podre" ou "podridão cerebral" é antigo e foi usado pela primeira vez no livro "Walden", escrito por Henry David Thoreau, em 1854, onde o autor já criticava a falta de valorização de ideias complexas. Recentemente, os especialistas em saúde mental e em educação passaram a observar que o excesso de telas e a baixa qualidade dos conteúdos on-line têm provocado impactos negativos não apenas no equilíbrio emocional de crianças, adolescentes e jovens, mas também têm causado prejuízos à aprendizagem”, esclarece.
A falta de socialização e atenção por decorrência do uso da internet também são outros fatores que se destacam nessa geração dentro das escolas, como explica Porto. “Como educadora, sinto uma grande preocupação com a questão das telas e o acesso indiscriminado aos conteúdos da internet. As novas gerações têm apresentado dificuldades não apenas correlatas a questões emocionais, como a socialização, mas também déficit de atenção e dificuldades cognitivas”, disse.
Porto explica que além dos profissionais da educação, os pais também devem observar se o hábito dos seus filhos na internet tem sido saudáveis e produtivos. Também relata que devem buscar acompanhar o procedimento de aprendizagem desenvolvido pela escola. “Recentemente, discutimos a aprovação de um projeto que proíbe o celular nas escolas (Projeto de Lei 293/2024) e defendemos a necessidade de um debate para além de uma lei restritiva. Precisamos questionar o que crianças, adolescentes e jovens estão consumindo na internet. Precisamos, com urgência, refletir sobre os papéis dos pais na educação dos seus filhos. E finalmente, mas não menos importante, precisamos definir o que as escolas querem ensinar, o como elas querem ensinar e aonde pretendem chegar”, esclarece.
Hoje, a internet possui vastos conteúdos alinhados com a educação, sendo uma ferramenta importante para os estudantes e profissionais da área. Porto faz uma alerta sobre as abordagens desses conteúdos, afirmando que profissionais da educação não podem ficar apenas cientes, uma vez que os resultados na saúde mental e emocional dos estudantes têm sido prejudicados. “Certamente, não podemos assistir atônitos uma deterioração mental, emocional e cognitiva resultante do excesso de conteúdos superficiais, pouco desafiadores, e com muitos equívocos, como os que encontramos nas redes sociais e que têm sido consumidos indiscriminadamente pelas crianças, adolescentes e jovens”, finaliza.
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